Cultura com engajamento social: estratégia feminina na gestão cultural em Marituba

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“Chica” tem uma longa trajetória, de 30 anos, ativa dentro dos movimentos sociais

Na cultura popular cabe de um tudo: música, canto, dança, encenações, festas, literatura, jogos, brincadeiras, artesanato, culinária tradicional. Gerir este conjunto de manifestações e ao mesmo tempo dar conta de um engajamento social buscando a igualdade é o ponto em comum de duas mulheres que estão à frente da gestão pública da cultura no município: Sandra Cristina Chagas, 53 anos, secretária municipal de Cultura, e Bárbara Rejane Ruffeil Besteiro, 38 anos, diretora de Cultura da Secel.

Titular da Secel, a “Vereadora Chica”, tem uma longa trajetória, de 30 anos, ativa dentro dos movimentos sociais. Ela é uma forte liderança, sempre ligada com as lutas de sua comunidade. Chica já exerceu dois mandatos como vereadora – de 2008 a 2012 e de 2016 a 2020 – representando a comunidade do bairro de São João. Uma mulher de luta com forte atuação dentro do “Fórum Permanente Fora lixão”. “ Tem que ser muito mulher para se destacar dentro de uma sociedade machista, porque o preconceito ainda é muito grande. Muitas das vezes a gente tem que lutar pelo que a gente quer, se for deixar o preconceito nos vencer a gente não consegue nada”, comenta a secretária.

Ela se declara uma apaixonada pelas manifestações da cultura popular. Já foi integrante de grupos de cultura no bairro de São João, cuja expressão eram as danças locais como o carimbó e o lundu e até dança do ventre. Durante seus mandatos, sempre prestigiou e deu apoio às manifestações da cultura popular no município. Chica também é apaixonada pelo Carnaval, onde atuou como organizadora de blocos tradicionais em Marituba. Ela ressalta que, no caso da cultura popular, a mulher exerce um papel de destaque, não sofrendo discriminação. “Muito pelo contrário, elas são destaques, são líderes e estão em sua grande maioria dentro de todas as expressões culturais”, explica.

Sua rotina de trabalho é intensa. Chica acorda cedo e parte para a sua jornada. Ela tem duas filhas mulheres. Chica conta que sempre procura dar toda atenção à família, mas muitas vezes é cobrada, pois sua agenda de reuniões chegam a se estender até tarde da noite. “Muitas vezes, sou cobrada dentro de casa, mas sempre faço questão de deixar claro que eu vejo minha família em todos os componentes da comunidade, e por todos os lugares onde eu estou. Nós mulheres sempre temos que ir à luta; não temos que ter vergonha do que a gente é. Não vamos deixar o papel feminino enfraquecer na cultura popular. Lugar de mulher é onde ela quiser estar”, conclui.

Mulheres criativas – Bárbara Rejane Ruffeil Besteiro, 38 anos, é formada em Gestão Pública. Nasceu e sempre viveu no município de Marituba. Desde os 18 anos, procurou se empoderar e trilhar seu próprio caminho. Atuou sempre junto às manifestações da cultura popular e aliou esse aspecto com seu trabalho de ação social junto à a população mais carente.

Bárbara é fundadora do grupo “Mulheres em Ação”, que reúne mulheres de várias profissões, religiões, classes sociais e correntes de pensamento com um único objetivo: se empoderar e ajudar a população mais carente do município. “Ser mulher não é fácil. Temos que encarar o preconceito, a desigualdade todos os dias. Eu, como mulher, me sinto muito disposta a lutar e me empoderar por conta dessas dificuldades. E foi por canta dessas desigualdades que nós fundamos o grupo ‘Mulheres em Ação'”, declara.

No grupo, as participantes se reúnem para que juntas possam se tornar mais fortes. Ela comenta que a mulher quer apenas exercer os seus direitos: “Queremos igualdade, queremos ter carreira e salários iguais, os mesmos direitos”.

O dia a dia de Bárbara também é composto por uma jornada intensa. Começa cedo para levar seus filhos para a escola, seguido de uma agenda extensa de atendimento à comunidade. Ela afirma que ser mulher é também ser mãe, esposa, produtora, amiga, artesã. “Tudo ao mesmo tempo”.

Expandir o conceito de cultura e fazer da produção cultural um elemento social de transformação da realidade é um objetivo à frente de sua diretoria. “Temos esse compromisso na nova gestão que está iniciando. Sempre com um toque feminino”, afirma.

“O fato de se adaptar às inúmeras realidades torna as mulheres seres únicos. Mulheres são dançarinas, artesãs, produtoras, pintoras, etc. Nossa missão é ampliar o espaço da cultura. Temos dois momentos especiais na cultura do município, que são o Carnaval e a quadra junina. Mas as mulheres produzem cultura durante todo o ano no seu dia a dia, e vamos procurar dar conta de todo este universo cultural nesta gestão”, finaliza.

Bárbara Besteiro é fundadora do Grupo “Mulheres em Ação”

 

 

 

 

 

 

Texto: Márcio Flexa

Fotos: Vitor Dagort

 

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