Mulheres de Marituba trabalham, se empoderam, cuidam da família e fazem girar a economia local

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A agricultora Leocádia do Espírito Santo trabalha há 40 anos com a produção de alimentos

A agricultora Leocádia do Espírito Santo, 61 anos, e a empresária Érika Fonseca, 39, possuem uma rotina diária intensa. Trabalho, casa, filhos, e, acima de tudo, muita força para sobreviver dentro de uma sociedade que ainda vê as mulheres como o “sexo frágil”. As duas têm em comum o fato de fazerem parte dos 50,22% da população feminina do município de Marituba, além de contribuírem de forma determinante para a movimentação da economia do município. Uma desempenha sua atividade na área rural, a outra, na zona urbana. De acordo com a estimativa populacional para o ano de 2020 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Marituba possui uma população de 133.685 pessoas, destas 67.138 são mulheres. Ou seja, de cada 10 habitantes do município, pelo menos seis são mulheres.

Apesar de mais da metade da população de Marituba ser feminina, a cidade também exemplifica uma realidade difícil para esta parcela da sociedade. De acordo com dados da dados do Programa Bolsa Família – PBF, até o mês de junho de 2011, 11.115 famílias eram o beneficiárias deste programa, e destas, 10.105 são de responsabilidades de mulheres, (CadUnico/SEMADS/Marituba).

Dona Leocádia e Érika se destacam por estarem à margem desta realidade e por contribuírem com a transformação desta precarização. A agricultora Leocádia do Espírito Santo, há 40 anos, trabalha com a produção de alimentos. Ela iniciou na atividade depois de ter se casado com um agricultor. “Eu sobrevivo da terra, pago as minhas continhas e vou sobrevivendo. Nada é fácil, mas a gente não pode parar, temos que continuar na luta para vencer o dia a dia”, ressalta. O marido de Leocádia faleceu há 16 anos. Foi quando ela assumiu a produção em seu terreno de 200×100 metros, localizado na comunidade de Santa Rita, zona rural de Marituba, onde produz hortifrutigranjeiros em geral.

“Eu acordo todos os dias às quatro horas da manhã. Vejo as notícias do dia e, às seis e meia, eu chego na horta para plantar e para colher. Fico trabalhando até às 10 horas e depois volto para casa para fazer meus afazeres domésticos. Retorno à horta às 16 horas para fazer a apanhação de jambu, couve, cheiro-verde e cariru, para fazer a entrega logo cedo no dia seguinte”, comenta, ao explicar sua rotina de trabalho.

Com seu trabalho, a agricultora criou seus três filhos, hoje todos com idade acima de 30 anos. “No começo, foi muito difícil para mim, mas como eu já tinha toda a matéria-prima da minha horta, eu só tive que continuar”, pontua. Apesar da idade e com os primeiros sintomas do cansaço se manifestando, ela explica que já está acostumada a esta rotina.

“Eu não consigo ficar quieta dentro de casa. Minha vida é plantar e colher minhas verduras. Sou uma pessoa feliz, graças a Deus. Um dia vou ter que parar porque a idade vai chegando e as forças vão se acabando, mas enquanto eu tiver saúde vou continuar trabalhando. Eu falo para as outras mulheres que nunca desistam de seus sonhos. Mulher tem que ser guerreira, tem que ir para o campo, para o escritório, em qualquer lugar onde ela queira estar”, afirma.

Dentro da nova gestão da Prefeitura de Marituba, as mulheres têm um papel especial e, no caso da agricultura, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Agricultura, Aquicultura, Abastecimento e Pesca (Sedap) incentiva, através do trabalho, do conhecimento, da capacitação, a transformação da realidade destas mulheres.

“Empodere-se” – A empresária Erika Fonseca está em seu terceiro negócio no município de Marituba, a loja de artesanato “Duser_Tao Arte e Cozinha”. Piauiense, há seis anos ela fez de Marituba o seu lar, ao casar com um maritubense. “Gosto muito de viver aqui e já estou no terceiro empreendimento. Tive um uma loja de festas e agora estou com uma loja de artesanatos que é o que eu sei e gosto de fazer”, destaca.

A empresária também conta com uma rotina cheia, que exige muita força. Ela acorda cedo todos os dias, deixa os filhos na escola, volta para casa para tomar café da manhã com o marido, vai para sua empresa, cuida dos negócios, e cuida do seu projeto. Erika comenta que, apesar de toda determinação, ainda surgem muitas dificuldades.

Para se empoderar e ajudar outras mulheres, Érika criou o projeto “Empodere-se”

“São muitas situações, pois, às vezes, temos o filho em casa que está doente e a energia baixa junto com eles, então todo o tempo a gente tem que se empoderar. Então, eu vejo que o meu papel nesta sociedade é poder contribuir com estas mulheres, para que elas também sejam vistas e sejam ouvidas. Quando a mulher sabe quem ela é e o que ela quer, os desafios começam a diminuir e fazê-las conseguir isso é a minha missão”, destaca.

Ela ressalta que, atualmente, está mais fácil ser empoderada, mas explica que as mulheres ainda têm que superar muitos desafios. “Nós ainda somos vistas pela sociedade como sexo frágil, mas estamos na luta, brigando para mostrar que também somos capazes. Infelizmente, nossa sociedade ainda é machista”, afirma.

Para se empoderar e ajudar outras mulheres a vencer os desafios, Erika criou o projeto “Empodere-se”, para contribuir com a transformação da realidade feminina no município de Marituba.

Para o seu empreendimento, a empresária tem na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Trabalho, Emprego e Renda (Sedeter), uma grande parceira. Todas as terças-feiras, o projeto “Empodere-se” reúne as mulheres que fazem parte do grupo para se autoconhecerem e se afirmarem como força de trabalho. Os encontros acontecem na sede da Sedeter.

Texto: Márcio Flexa

Fotos: Ary Brito

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