Com objetivo de promover a dignidade da pessoa humana e formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, em pautas de ações afirmativas, políticas públicas que visam combater discriminações raciais, religiosas, étnicas e de gêneros, a Jornada Pedagógica Municipal de Marituba 2023: “Práticas Pedagógicas e a Aplicabilidade no Contexto Escolar”, promovida pela Secretaria Municipal de Educação de Marituba (Semed), entre os dias 16 e 20 de janeiro, abordou em sua extensa programação temas como “Por uma escola antirracista”, ministrado na manhã da última terça, 17, pelo Professor Dr Luiz Augusto Mendes da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e “Educação para as relações étnico-raciais”, ministrado na tarde de quarta-feira, 18, pelo Professor Dr Jackson da Silva (Ufpa). Ambas palestras ministradas na escola municipal Doutor Renausto Amanajás, bairro Dom Aristides.
Temas configurados como a promoção do conhecimento à demanda populacional brasileira afrodescendente, que corresponde a cerca de 60% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2022.
“Falar da questão racial com os gestores do município foi muito importante para mostrar como o racismo estrutural está muito presente nas nossas escolas sem percebermos. A ideia da oficina partiu da necessidade de fazer uma escola antirracista, desde a gestão até as temáticas trabalhadas em sala de aula, para proporcionar mudanças conjunturais e estruturais em nossa sociedade que é racista. Portanto, esperamos ter contribuído para despertar mais ainda a necessidade de ações afirmativas e o desenvolvimento de práticas antirracistas em nossas escolas”, disse o professor Luiz Mendes.
A ação educacional antirracista, por meio do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados, é obrigatória e amparada pela Lei Federal de Nº 10.639, de 9 janeiro de 2003.
Para a professora licenciada em História da escola municipal Cora Tereza, Waneize Trindade, essa temática “Educação para as relações étnico-raciais”, colabora com a formação dos docentes, possibilitando discussões e estratégias de aprendizado nesse campo que ainda é pouco abordado nas escolas.
“A pauta é de suma importância, sendo necessário que a escola realize estratégias para debater sobre racismo, gênero, identidade étnico-racial, diversidade cultural, combate a intolerância religiosa, e tantos outras pautas relevantes para a nossa comunidade escolar. Como mulher negra e professora de História analiso todo o contexto social, cultural e político pedagógico da escola, e ressalto que as ações educacionais, especialmente sobre essa questão, não chegam para a comunidade escolar.
Além dessas leis, existe a normativa CNE/CP 03/2004 que aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas, com base nessas diretrizes, a Professora Waneize conclui afirmando “que haja formação específica para os professores da rede municipal, dos diferentes níveis de ensino, para aprofundamento e inclusão da temática no planejamento de ensino que influenciará positivamente a formação dos nossos estudantes”.
A educação está sempre em movimento e evolução para o bem-estar dos educandos, sendo considerada como uma das engrenagens essenciais na modificação de uma sociedade, como explica o Professor Jackson da Silva.
“As escolas e os sistemas de ensino são fundamentais nas transformações societárias e na valorização de princípios éticos, políticos e democráticos de fortalecimento da vida cidadã e de participação plena. Assim, o debate sobre as relações étnico-raciais na educação ganha importância por evidenciar a multiplicidade de sujeitos sociais e históricos que constituem a realidade brasileira e latino-americana. A escola é uma versão reduzida da sociedade em que está inserida e deve combater o racismo que existe na sociedade, gerando novos valores e princípios de respeito e reconhecimento da diversidade”, disse.
Professor Jackson afirma ainda que o trabalho pedagógico desnaturaliza o racismo e as desigualdades, ativando valores e atitudes de valorização do outro, de autoestima e de reconhecimento diferença.
“A escola deve formar estudantes capazes de pensar em como eliminar opressões estruturais e combater o racismo, estruturando um projeto de futuro e fortalecimento de identidades, territórios e comunidades de onde os jovens são originários. Portanto, o saber escolar deve gerar diálogos, redimensionar a história e memória e enfrentar os racismos que logram se reproduzir no tempo e vítimas populações negras, indígenas e pobres. É necessário introduzir o tema do racismo no cotidiano escolar, mas a tarefa não é fácil, pois requer estratégias metodológicas continuadas e um permanente diálogo com a sociedade e as instituições. A comunidade escolar tem de estar preparada para identificar as várias formas de manifestação dos racismos e das atitudes discriminatórias que inferiorizam estudantes negros devido a cor e a origem”, concluiu.
Texto: Ascom Semed
Fotos: Ary Brito, Atácia Santos, Paulo de Souza e Divulgação
Galeria
- Formação continuada para gestores, vice gestores, coordenadores pedagógicos e professores da rede municipal de ensino