Hoje, 21 de abril, Marituba completa 28 anos de emancipação política. Nascida dentro do processo de ocupação e de desenvolvimento da região Amazônica, o município mantém sua tradição derivada do amor de seus moradores e visão empreendedora dos diferentes povos que formaram a população do município.

O povoado de Marituba tem origem na Vila Operária, construída na década de 1900 para abrigar os operários de manutenção das oficinas dos trens e demais funcionários da Estrada de Ferro Belém/Bragança.
Até meados da década de 1940 a economia local era pautada nas atividades comerciais de apoio à ferrovia e numa incipiente agricultura de subsistência. A efetiva expansão da vila é consequência da chegada dos primeiros comerciantes, cujos empreendimentos contribuíram para a conformação do núcleo urbano de Marituba.
A ocupação de Marituba se iniciou pelo bairro Centro originado da povoação consequente da ocupação por parte dos operários que trabalhavam na construção e na operação da ferrovia.
A rotina da vida no bairro mais antigo de Marituba ainda persiste na memória dos primeiros moradores. Como no caso da pensionista Ingrid Bergman Cromwell, de 68 anos. Ela mora há 40 anos no bairro Centro e tem no local a sua referência de vida.
Os primeiros contatos com o bairro foram através de seu pai que tinha alguns amigos que trabalhavam na ferrovia. Dos primeiros anos, ela se recorda de um terreno que o seu pai comprou onde criava carneiros e outros animais.

“Nós morávamos em Belém, mas vínhamos para cá frequentar o Igarapé da Mata que era a coisa mais linda do mundo. Meu pai se apaixonou pelo local e logo compramos uma casa de madeira. Viemos morar em Marituba e frequentávamos a antiga Prainha. Inicialmente somente nós e alguns operários da Estrada de Ferro frequentávamos o local”, conta.
A emancipação – A elevação de Marituba à categoria de município refletiu o anseio da população, que desde 1983 buscava a autonomia da vila. Foram três movimentos emancipacionistas: o primeiro, em 1983; o segundo, em 1991; e o último, em 1993.

À frente do terceiro movimento de emancipação, que culminou com a autonomia de Marituba, estavam Fernando Corrêa e Eládio Soares. O primeiro também foi eleito como primeiro prefeito do município. O segundo, falecido em 2008, dá nome à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Marituba.
O servidor público Ivan Soares, 65 anos, é filho de Eládio Soares. Ele acompanhou todo o processo de emancipação ao lado do pai e conta que o descontentamento com a situação do município, que fazia parte de Benevides, motivou o grupo a iniciar o movimento, após duas tentativas anteriores frustradas.

Ivan lembra que o pai, Eládio Soares, era corretor de imóveis e fazia parte de um grupo que se demonstrava insatisfeito com o fato do então distrito ser relegado a segundo plano e, juntos, os membros desse grupo começaram, então, a discutir uma forma de emancipá-lo. Do grupo faziam parte políticos, empresários, jornalistas, universitários e lideranças religiosas, entre outras, que passaram a se reunir na Paróquia do Menino Deus.
Em 1993, um outdoor em frente à feira de Marituba, conclamando a população a engajar-se na luta em prol da emancipação teve grande repercussão, dando início a formação da Comissão Pró-Emancipação de Marituba (Copem), liderada primeiramente por Fernando Corrêa e, mais tarde, por Eládio Soares.
Em 1994, pela Lei Estadual Nº 5.857/1994, a então localidade de Marituba é elevada à categoria de município, com área desmembrada do município de Benevides. Constituído do distrito administrativo sede, o município de Marituba foi oficialmente instalado em 1997.

A Colônia de Marituba e o bairro Dom Aristides – De acordo com as estimativas populacionais do IBGE, atualmente Marituba possui cerca de 129 mil habitantes em 20 bairros. Um deles, o Dom Aristides, nasceu da antiga cidade hospital, a Colônia de Marituba que foi construída, em Marituba, na Era Getúlio Vargas, no período de 1930, quando foram fomentadas as construções de asilos-hospitais que abrigariam os infectados pela então denominada lepra.
Em 1942 o leprosário de Marituba foi inaugurado com pavilhões que apresentariam em torno de 28 leitos, cada um com 14 quartos com portas externas e sem janelas.
Em 1976, a nova política de saúde estabeleceu que portadores de hanseníase não poderiam ser mais segregados e sim, tratados e inseridos em seu meio social. Com isso, as colônias em todo o Brasil deveriam ser transformadas em hospitais e asilos. Mas, em Marituba, o processo só teve final em 1986 após a visita de João Paulo II que fez o pedido ao Governo para quebrar a corrente das colônias (fato que remete às grossas correntes que ficavam na entrada da Colônia que hoje se chama avenida João Paulo II.
Nesta mesma época o governador Almir Gabriel revitalizou as colônias no Estado do Pará. A partir daí as pessoas passaram a não estar mais segregadas, porém continuaram dentro da colônia. Muitos constituíram famílias. Outros foram abandonados pela família e não tinham mais para onde ir.
Hoje ainda existem cerca de 200 pacientes que permanecem na estrutura do que era a colônia. Muitos venderam suas propriedades, alguns ampliaram suas casas e mantiveram a estrutura original. As estruturas que constituíram a antiga Colônia de Marituba ainda permanecem pelos mais de 300 hectares, até a rodovia BR 316 onde ficavam as correntes que separavam a colônia da sociedade.

Assim se forma o bairro que hoje se chama Dom Aristides. O nome é uma homenagem a Aristides Pirovano, nascido na Itália, bispo católico, membro do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras e que foi Capelão Auxiliar na Colônia de Hansenianos de Marituba, desde 1978 e falecido em 1997, em sua terra natal. Ele é considerado pai benfeitor dos hansenianos e atribuem a ele a visita do Papa João Paulo II na colônia.
Edmilson Picanço, 48 anos, é coordenador em Marituba do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), uma entidade sem fins lucrativos fundada em 6 de Junho de 1981. A luta de Edmilson Picanço pela causa vem de sua história. Filho de hansenianos, ele foi separado de seus pais ainda recém-nascido e somente retornou para a família aos oito anos de idade.
“Nasci na Colônia e por conta da separação tive que ir para o Educandário Eunice Weaver, que era para onde iam os filhos de hansenianos internados compulsoriamente nas colônias. Meu pai e minha mãe eram pacientes com sequelas. Nós éramos quatro irmãos e entre eles uma mulher que minha mãe doou para ser adotada por um amigo. Os outros três foram encaminhados para o educandário”, comenta.
Estima-se que cerca de 40 mil crianças tenham sido separadas de seus pais, muitas das quais até hoje não reencontraram suas famílias. Edmilson explica que na Colônia de Marituba, os pacientes eram internados de forma compulsória onde teriam sofrido segregação por medida profilática do Governo Federal . A raiz da luta pela causa está na série de acontecimentos desencadeados pela hanseníase na vida de Picanço.
Hoje Edmilson é uma grande liderança nos movimentos sociais em Marituba e ainda mora no bairro de Dom Aristides que se originou com o fim das atividades da Colônia de Marituba em 1986, após a visita do Papa João Paulo II. A Colônia chegou a ter uma população de até 900 pessoas vindas de todo o Estado.
O momento politico atual – Os dados indicam que os incrementos populacionais de Marituba também estão relacionados a fluxos migratórios, evidenciando a capacidade de retenção e atração populacional do município.
Segundo os resultados do Censo Demográfico de 2010, aproximadamente 48% da população maritubense é natural de outros municípios.
Patrícia Mendes nasceu no interior do sertão de Pernambuco, em Bodocó. Moradora de Marituba há 16 anos, Patrícia começou a empreender vendendo baldes e bacias na feira central de Marituba, numa lona. Cresceu e construíram as lojas “Mundo do Real” e hoje chegam a gerar mais de 120 empregos diretos na loja.
Mãe de três filhos pequenos, Patrícia começou a ter o desejo de transformar a vida das pessoas para melhor justamente por conta do trabalho nas lojas e do contato com o público, que lhe relatava as dificuldades enfrentadas nos diferentes setores da vida em Marituba. Assim nasceu a candidatura vitoriosa nas eleições municipais de 2020.
” A história de Marituba é uma história de luta dos trabalhadores que chegaram aqui para trazer desenvolvimento através da Estrada de Ferro e que encontraram na “terra dos Umaris” um lar para poder construir sua família. É uma história de pessoas que heroicamente lutaram para que fossemos donos de nosso destino político. Quero honrar a conquista dessas pessoas podendo dar o melhor de mim para construir e para transformar nossa amada cidade em um lugar melhor para nossos filhos e para todos os que aqui habitam”, destacou a prefeita.
Suas principais pautas à frente da Prefeitura de Marituba são a mulher, a juventude e a geração de emprego e renda.
Da Redação Comus
Fotos: Vitor Dagort, Ary Brito e divulgação