A formação do município de Marituba ocorre em consequência da Estrada de Ferro Belém Bragança, do crescimento da Região Metropolitana de Belém, da imigração por conta dos grandes projetos de desenvolvimento da Amazônia e, mais recentemente , das novas politicas habitacionais de financiamento da casa própria.

O pesquisador e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) Luiz Augusto Soares Mendes é doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense e pesquisador na área de Geografia Humana com ênfase na urbanização da Amazônia, com atuação, entre outros temas, na gestão e planejamento urbanos; espaços rural-urbanos; condomínios fechados, especulação imobiliária e metropolização do espaço.

Em sua tese de doutorado denominada “A urbanização metropolitana estendida: aspectos da produção do espaço de Belém e de sua região” ele traça o desenvolvimento histórico e geográfico da RMB e seus municípios, entre eles, o município de Marituba.

Fonte: www.estacoesferroviarias.com.br/braganca/marituba.htm

Para ele, Marituba se consolida na Região Metropolitana de Belém como o município que alcança o maior índice de crescimento anual e como um dos que possui o maior potencial de desenvolvimento econômico na região.

Para isso ele traça um panorama histórico e geográfico que explica o lugar que município ocupa atualmente na região.

Marituba surge no contexto da Estrada de Ferro Belém Bragança como a segunda parada da Estrada de Ferro, uma parada de manutenção. Os trens que saiam de Belém e se dirigiam para Bragança buscavam produtos como hortifrutigranjeiros no contexto do Ciclo da Borracha.

“Quando se produz uma caixa d’água que era para diminuir a quentura que ficava nas caldeiras, uma população formada por pessoas que inicialmente trabalhavam na empresa de manutenção dos trens começa a habitar Marituba”, explica o pesquisador.

O pesquisador Luiz Augusto Soares Mendes é doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense

Na época se constituía em uma Vila Operária que ficava muito próximo da caixa d’água. Cada parada do trem veio a se formar um povoado que veio a se tornar um município. Os pontos de parada geram uma circulação e uma localização que vai se tornando atrativa.

“A dinâmica de formação do aglomerado destas cidades envolve os trabalhadores, suas famílias que originam uma dinâmica de urbanização”, considera.

No caso específico da Região Metropolitana de Belém vai ocorrer o incentivo da migração de nordestinos, em um primeiro momento, ocasionada pela exploração da borracha. Em um segundo momento, a partir da década de 60, atraídos pelas politicas de desenvolvimento regional denominado “Grandes Projetos de Desenvolvimento da Amazônia”. Todos os dois movimentos impulsionaram a formação e crescimento de Marituba.

95% dos bairros de Marituba se originou de ocupações espontâneas

Outro fator que marca a formação populacional de Marituba é o surgimento das ocupações espontâneas.

Na década de 70, com o grande crescimento populacional, começa a se formar a chamada “indústria das ocupações espontâneas”. Nesta época Belém passa a contar com mais de 270 ocupações.

“É a partir desta época que Marituba passa por um processo de intensificação, deixando de ser povoado de Ananindeua, passa a ser povoado de Benevides e chega então até o processo de emancipação”, destaca.

Inicialmente Marituba foi formada por 23 ocupações espontâneas, sendo o bairro Centro o único que não foi formado neste processo.

Nos anos 2000 Marituba alcança o índice de crescimento de 130% ao ano, sendo o município da Região Metropolitana de Belém que alcança o maior índice.

Caixa D’Água da Estrada de Ferro: um marco histórico do município

O bairro Almir Gabriel – Na década de 90, em decorrência do processo de expansão da região Metropolitana surge a ocupação denominada “Che Guevara” inicialmente formada por mais de seis mil famílias. A área surge em um contexto de crise econômica no Brasil, reestruturação do Brasil com o Plano Real e empobrecimento da população.

“Surgem assim as maiores ocupações como o Almir Gabriel, em Marituba e o PAAR, em Ananindeua. Estas ocupações trazem o diferencial de terem certa organização política que originam as associações comunitárias ou centros comunitários na luta pela melhoria e pela regularização para que toda família tenha garantido o seu direito à moradia”, considera o pesquisador.

Os condomínios – Dentro do contexto das novas politicas habitacionais e financiamento da moradia e do crescimento imobiliário surge o atual momento que consolida Marituba como município da Região Metropolitana de Belém.

A construção das unidades habitacionais traz uma nova realidade que é a entrada de capital estrangeiro através de grandes construtoras como a Direcional que foi responsável pela construção do Residencial Viver melhor Marituba e do Bella Cittá com os condomínios Salinas, Soure e Algodoal. Atualmente, o município possui 14 condomínios.

Boulevard das Águas, no  Residencial Viver Melhor Marituba

A chegada dos condomínios fechados e dos conjuntos habitacionais trouxe para Marituba uma parcela da população com poder aquisitivo que impulsionou o desenvolvimento econômico do município. É como se a cada dia chegassem a Marituba cerca de 10 novas famílias.

Com esta população se instalam em Marituba serviços que não ainda não existiam como a intensificação dos serviços bancários com bancos públicos e privados, grandes empresas prestadoras de serviços com academias, e redes como Americanas, Matheus e Yamada. Empreendimentos estes que vem atender esta nova parcela da população que anseia por serviços que lhe atendam.

Marituba possui um grande potencial turístico

 

“Desta forma se dá também a estruturação do potencial turístico de Marituba com a descoberta de balneários, melhora da estrutura destes locais, aberturas de restaurantes gourmets, academias, hamburguerias para atender esta população que chega e passa a consumir no município”, comenta.

Atualmente Marituba conta com uma população estimada em 129 mil habitantes. Para o pesquisador, em consequência deste crescimento, o município tem grandes desafios a se enfrentar. “Entre estes está o investimento em educação para que a população local possa ser incluída nos benefícios que o crescimento econômico propicia. Em segundo lugar a geração de empregos e renda e o investimento em infraestrutura urbana para a melhoria da qualidade de vida da população”, concluiu o pesquisador.

Texto: Márcio Flexa – Comus

Fotos: Ary Brito, Ruan Cardoso e divulgação.

 

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